21 de abril | Loma del Pliegue Tumbado (entrando numa fria)
Acordamos antes do sol, às 7h, e depois de um café saímos para a caminhada, que inicia ao lado do Centro de Visitantes. São 10 Km a serem percorridos em uma subida constante, mas suave, com campos abertos, bosques e riachos.
No início o clima estava horrível, mas melhorou durante os primeiros quilômetros…
Após a metade a trilha surgiram campos de neve, poças e lagos congelados. O frio aumentou, Careli e eu não estávamos preparados para tanto. Karla me emprestou um par de luvas, o que aliviou o sofrimento. Ele se protegeu como pôde, mas o pior estava por vir… 😀
Passamos pela bifurcação com a Laguna Toro, onde uma placa nos avisava sobre o perigo das vacas selvagens. Não vimos nenhuma por aquelas bandas.
Levamos cerca de 4h até o mirante que marca o final da trilha, contando com as grandes paradas para fotos e lanches. Chegando ali, avistamos a Loma propriamente dita, que nada mais é que um pequeno monte. Como é difícil ter referências naquele terreno, tudo parecia muito próximo, não era. Tomamos consciência do quanto demoraria quando ouvimos algumas vozes que desciam dali. Custamos a localizar dois minúsculos pontos escuros na encosta do morro. Demoraria! 😀
Começamos a subir com a certeza que não levaríamos mais que meia hora para chegar ao cume daquele morrinho tão próximo! Demoramos mais que o dobro disso, por uma subida marcada por estacas, totens e com muita neve por todo lado, onde muitas vezes enterramos as pernas até a altura do joelho. Os últimos metros foram bem lentos, pois o trecho era mais íngreme do que o resto, com neve fofa e pedras soltas.
Nisso o frio já tinha tomado conta de todos nós… Mas o visual lá de cima, ahhh o visual, compensou o sacrifício! Toda a paisagem daquele lugar de sonho se derramava ao nosso redor, com o Cerro Solo como montanha mais próxima, o Cerro Torre tímido entre nuvens, a laguna de mesmo nome espelhada, Fitz Roy imponente com um véu transparente caindo por toda a cadeia de vizinhos, a Laguna Capri distante e outros picos nevados completando o espetáculo. Realmente valeu à pena!
Lá em cima ainda encontramos três americanos que vieram nos seguindo de longe, meio desconfiados e pareceu que só acreditaram que iríamos até o final quando não viram nenhum sinal de que daríamos meia-volta. Como nenhum de nós morreu, eles continuaram 😀
Fotografamos tudo aquilo e quando parecia ter terminado e pronto para descermos, saquei da mochila alguns montanhistas do Projeto Montanha de Brinquedo, para fazer mais fotos. Careli não pareceu acreditar 😀 Caminhava de um lado para outro para se aquecer, igual a um bicho enjaulado. Falei que ele podia descer, mas a criatura é teimosa e ficou ali até o final!
Quando resolvemos descer, o processo foi lento, cada passo precisava ser confirmado para não afundarmos nos buracos entre as pedras e sob a neve. Em um determinado momento fiquei sem paciência praquilo, recolhi os bastões e saí escorregando montanha abaixo, como um tobogã. Karla e Careli fizeram o mesmo, o que adiantou bem a descida, acompanhada por uma nevasca que quase chegou a cobrir meus bastões de caminhadas quando os deixei por alguns instantes no chão para fazer mais alguns cliques da paisagem.
Levamos cerca de 3h até o Centro de Visitantes, por onde passamos rápido e seguimos para o abrigo com os pés ainda encharcados do dia na neve. Lá, encerramos a noite com nosso último jantar no lugar. Enquanto digeríamos a carne com legumes e arroz com alho poró, arrumamos as mochilas, regamos tudo com a cerveja dos hermanos e conversas de final de viagem.
22 de abril | A volta pra casa, até mais El Chaltén
Nosso último dia em El Chaltén passou muito rápido. Acordamos às 5h da manhã e depois de um belo café, deixamos um bilhete nos despedindo de Hugo e família, ainda dormindo àquela hora.
Embarcamos no ônibus que partiu do Rancho Grande, próximo ao abrigo, e todos apagaram automaticamente, apenas com uma pequena piscada na parada que fizeram em La Leona. Logo depois estávamos no aeroporto de El Calafate.
Pelo que lembro, deve ter sido a volta pra casa mais tranquila que já tive, tudo casou perfeitamente. Com três horas de viagem estávamos em Buenos Aires e com mais três na “Cidade Maravilhosa”, onde já na saída do Galeão matamos a saudade do trânsito agressivo do Rio de Janeiro, depois de quase dez dias onde as maiores preocupações eram a mudança do clima, o horário do nascer do sol e o cardápio do dia.
A região de El Chaltén é, sem dúvida, o lugar mais bonito que já conheci. A todo instante você se vê em uma fotografia da National Geographic. Apesar de todo o turismo ainda é possível sentir-se isolado naquela paisagem selvagem, onde o clima pode mudar, literalmente, no minuto seguinte.
A cada ida, a vontade de voltar lá e fazer outros roteiros renasce. É uma daqueles lugares que sempre estará no topo da lista de preferidos, junto com alguns outros onde ainda é possível esquecer das mazelas das cidades grandes e viver no melhor sentido dessa palavra.
Excelente relato. Muito util para quem pretende fazer essa viagem. Obrigado meu amigo!
Muito obrigado, amigão! A ideia é essa mesmo, ajudar quem precisa de informações 😉
Abração.